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Gastar para poupar

Investir requer hábito, foco e uma dose extra de vigor para evitar a sabotagem de nosso cérebro programado para economizar energia
Por Willyam Mayorga
Publicado em 07 de out de 2024
Atualizado em 07 de out de 2024
8 minutos de leitura
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Imagem com um desenho de cérebro rosa e um raio amarelo acompanhado do texto "treine sua mente para investir"

Todos os dias tomamos centenas de decisões. Desde o despertar ao primeiro toque do alarme ou acionar a função soneca e dormir um pouco mais, nossa mente é bombardeada por uma série de escolhas. Algumas, como abrir os olhos ao acordar, acontecem quase que no piloto automático. Já outras, exigem foco e atenção: são aquelas decisões que nos exigem mais energia e estão ligadas a fatos muito importantes ou que fujam da rotina.

Você já reparou que quando temos um evento importante demoramos mais para escolher a roupa? Ou quando ir para a academia ainda não é um hábito, sempre somos impedidos por situações mais importantes ou por pura preguiça? Pois bem, quando pensamos em investir, nossa mente funciona da mesma forma.

Seja ir para a academia, ler um livro ou investir dinheiro – nossa mente não foi programada para isso. Na realidade, todas essas atitudes são entendidas como antinaturais por nosso cérebro cujo desenvolvimento está ligado à economia de energia, preservação e reprodução da espécie.

Observe que nos últimos anos, boa parte das soluções carregam tecnologia que nos permite economizar energia e podem nos deixar mais preguiçosos. Pedir comida no aplicativo, procurar emprego em redes sociais, ler notícias no celular,receber mensagens e até mesmo aquele botão “continuar assistindo” sua série no streaming, são bons exemplos disso.

Como nosso cérebro não foi desenvolvido para realizar trabalhos intelectuais, algumas atividades gastam mais energia e dessa forma, tomamos decisões que limitam nossa racionalidade e nos fazem ter escolhas questionáveis. Guardar dinheiro é uma dessas escolhas difíceis. Muitas pessoas associam investimento apenas a cálculos matemáticos, educação financeira, boletos, rentabilidade ou mercado financeiro. Também surgem preconceitos como, “investir é pra gente rica” ou “é preciso ter muito dinheiro para iniciar”.

Diante das evidências de como as decisões financeiras estão ligadas ao comportamento, diversas pesquisas se dedicaram a apresentar a importância de observar dois elementos: finanças e comportamento, dando vida às Finanças Comportamentais. Das diversas descobertas apresentadas por esse novo campo do conhecimento, algumas ajudam a entender o porquê temos tanta dificuldade em guardar e investir dinheiro.

Acredite, você não está sozinho! O ser humano, em sua maioria, tem uma tendência a valorizar mais a recompensa presente ante a recompensa futura. É mais fácil gastar do que guardar. É mais fácil comer o chocolate agora do que esperar até o final do dia. É mais fácil esperar o ano virar para começar algo. O desconto hiperbólico é um conceito que explica esse comportamento que leva a decisões que priorizam o presente em detrimento do futuro.

É por isso que quando você pensa em guardar dinheiro, seu cérebro não vai te ajudar. Você vai gastar muita energia para tomar essa decisão de guardar!

Outro erro decisório comum quando pensamos em investir está ligado à tendência que temos de simplificar respostas buscando muitas vezes atalhos ou regras de bolso conhecidos como heurísticas (do termo "eureka", ou capacidade de descobrir). Essas escolhas levam aos chamados vieses cognitivos, que são desvios sistemáticos do raciocínio. Por exemplo, muitas pessoas associam o ato de investir apenas as pessoas ricas, porque um estereótipo comum é que investidores são aqueles com grandes recursos e acesso a um mercado exclusivo. Essa simplificação (chamada heurística da representatividade) faz com que muitas pessoas deixem de investir ignorando o fato de que hoje o mercado financeiro permite aplicações com pequenas quantias, de forma rápida e acessível, com poucos cliques, como o nosso cérebro gosta!

Embora, inicialmente, o processo de guardar e investir demande nossa energia mental, a boa notícia é que com a prática consistente, essas ações podem ser internalizadas, tornando-se tão naturais quanto outras atividades diárias.

Lembra como foi difícil a primeira vez que amarrou um sapato ou dirigiu um carro e depois ficou fácil? Pois é, com investimentos é muito parecido! Ao repetirmos esse comportamento, vamos treinando nosso cérebro para tomar essa decisão de forma intuitiva, automática e gastando muito menos energia.

Mas lembre-se, você terá que gastar para guardar, e não é dinheiro! 😉

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* Willyam Mayorga é líder da Academia de Investimentos Bradesco. Há mais de 16 anos atua no mercado financeiro com foco na formação, especialização e desenvolvimento impactando milhares de profissionais de investimentos. Mestre em Economia e Mercados, com ênfase em finanças comportamentais.

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